NOTICIAS DO VATICANO
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Mensagem de Bento XVI para o sesquicentenário da unificação política da Itália

Meta natural da identidade nacional


A contribuição fundamental do cristianismo e da Igreja católica

A unidade da Itália, realizada há cento e cinquenta anos, não constitui uma "construção política artificial de diferentes identidades", mas sim a "meta política natural de uma identidade nacional forte e radicada, subsistente ao longo do tempo", escreve o Santo Padre na mensagem que enviou ao presidente da República italiana, Giorgio Napolitano, por ocasião das celebrações do sesquicentenário da unificação política nacional. O texto foi entregue ao chefe de Estado pelo cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, durante o encontro que teve lugar na manhã de quarta-feira 16 de Março, no Palácio do Quirinal.

Excelentíssimo Senhor
GIORGIO NAPOLITANO
Presidente da República Italiana

O 150° aniversário da unificação política da Itália oferece-me a feliz oportunidade para meditar sobre a história deste amado país, cuja capital é Roma, cidade onde a Providência divina colocou a Sé do Sucessor do Apóstolo Pedro. Por conseguinte, ao formular-lhe, bem como a toda a Nação, os meus bons votos mais fervorosos, sinto-me feliz por lhe comunicar, em sinal dos profundos vínculos de amizade e de colaboração que unem a Itália e a Santa Sé, estas minhas considerações.
O processo de unificação que teve lugar na Itália durante o século XIX, e que passou para a história com o nome de "Risorgimento", constitui a meta natural de um desenvolvimento identitário nacional, encetado há muito tempo. Com efeito, a nação italiana, como comunidade de pessoas unidas pela língua, pela cultura e pelos sentimentos de uma mesma pertença, não obstante a pluralidade de comunidades políticas articuladas na península, começa a formar-se no período medieval. O Cristianismo contribuiu de maneira fundamental para a construção da identidade italiana através da obra da Igreja, das suas instituições educativas e assistenciais, fixando modelos de comportamento, configurações institucionais e relações sociais; no entanto, também mediante uma actividade artística extremamente rica: a literatura, a pintura, a escultura, a arquitectura e a música. Dante, Giotto, Petrarca, Michelangelo, Raffaello, Pierluigi da Palestrina, Caravaggio, Scarlatti, Bernini e Borromini são apenas alguns nomes de uma série de grandes artistas que, ao longo dos séculos, ofereceram uma contribuição fundamental para a formação da identidade italiana. Também as experiências de santidade, que em grande número constelaram a história da Itália, contribuíram vigorosamente para construir tal identidade, não apenas sob o perfil específico de uma realização peculiar da mensagem evangélica, que no tempo caracterizou a experiência religiosa e a espiritualidade dos italianos (pensemos nas grandes e múltiplas expressões da piedade popular), mas inclusive sob os pontos de vista cultural e até político. São Francisco de Assis, por exemplo, distingue-se também pelo contributo para a formação da língua nacional; santa Catarina de Sena oferece, embora fosse uma simples mulher do povo, um estímulo formidável para a elaboração de um pensamento político e jurídico italiano. A contribuição da Igreja e dos fiéis para o processo de formação e de consolidação da identidade nacional continua inclusive na era moderna e contemporânea. Também quando algumas partes da península foram submetidas à soberania de potências estrangeiras, foi precisamente graças a tal identidade já clara a forte que, não obstante o perdurar no tempo da sua fragmentação geopolítica, a nação italiana conseguiu continuar a subsistir e a adquirir consciência de si mesma. Por isso, a unidade da Itália, que se realizou na segunda metade do século XIX, pôde ter lugar não como uma construção política artificial de diferentes identidades, mas sim como meta política natural de uma identidade nacional forte e radicada, subsistente ao longo do tempo. A comunidade política unitária nascente, na conclusão do ciclo renascentista, teve como elemento adesivo que mantinha unidas as diversidades locais, contudo subsistentes, precisamente a identidade nacional preexistente, para cuja modelação o Cristianismo e a Igreja ofereceram uma contribuição fundamental.
Por complexos motivos históricos, culturais e políticos, o "Risorgimento" passou como um movimento contrário à Igreja, ao Catolicismo, por vezes até contrário à religião em geral. Sem negar o papel de tradições de pensamento diversos, algumas assinaladas por características jurisdicionalistas ou laicistas, contudo não se pode silenciar a contribuição de pensamento e às vezes de acção da parte dos católicos para a formação do Estado unitário. Sob o ponto de vista do pensamento político, seria suficiente recordar toda a vicissitude do neoguelfismo, que conheceu em Vincenzo Gioberti um ilustre representante; ou então pensar nas orientações católico-liberais de Cesare Balbo, Massimo d'Azeglio e Raffaele Lambruschini. Quanto ao pensamento filosófico, político e também jurídico, sobressai a grande figura de Antonio Rosmini, cuja influência se desenvolveu ao longo do tempo, até influenciar pontos significativos da Constituição italiana em vigor. E a propósito da literatura que tanto contribuiu para "forjar os italianos", ou seja, para lhes conferir o sentido de pertença à nova comunidade política que o processo renascentista ia plasmando, como deixar de recordar Alessandro Manzoni, intérprete fiel da fé e da moral católica; ou então Silvio Pellico que, com a sua obra autobiográfica acerca das dolorosas vicissitudes de um patriota, soube dar testemunho da conciliabilidade entre o amor pela pátria e uma fé constante. E de novo figuras de santos, como são João Bosco, impelido pela solicitude predagógica a compor manuais de história da pátria, que modelou a pertença ao instituto por ele fundado sobre um paradigma coerente com um conceito liberal sadio: "Cidadãos diante do Estado e religiosos perante a Igreja".
A construção político-institucional do Estado unitário comprometeu diversas personalidades do mundo político, diplomático e militar, entre as quais também representantes do mundo católico. Este processo, embora tenha sido levado a confrontar-se inevitavelmente com o problema da soberania temporal dos Papas (mas inclusive porque levava aos territórios gradualmente conquistados uma legislação em matéria eclesiástica de orientação fortemente laicista), teve efeitos dilacerantes sobre a consciência individual e colectiva dos católicos italianos, divididos entre os opostos sentimentos de fidelidade, que surgiam da parte da cidadania por um lado e, por outro, da pertença eclesial. Mas é necessário reconhecer que, se foi o processo de unificação político-institucional que produziu aquele conflito entre Estado e Igreja, que passou para a história com o nome de "Questão Romana", suscitando consequentemente a expectativa de uma formal "Conciliação", nenhum conflito teve lugar no tecido social, marcado por uma profunda amizade entre a comunidade civil e a comunidade eclesial. A identidade nacional dos italianos, tão fortemente arraigada nas tradições católicas, constituiu na verdade a base mais sólida da conquistada unidade política. Em síntese, a Conciliação devia realizar-se entre as Instituições, e não no tecido social, onde fé e cidadania não estavam em conflito. Mesmo durante os anos da dilaceração, os católicos trabalharam pela unidade do país. A abstenção da vida política, que se seguiu ao "non expedit", levou as realidades do mundo católico a uma grande assunção de responsabilidade no campo social: educação, instrução, assistência, saúde, cooperação e economia social foram âmbitos de compromisso que fizeram desenvolver-se uma sociedade solidária e fortemente unida. A problemática que se abriu entre Estado e Igreja, com a proclamação de Roma como capital da Itália e com o fim do Estado Pontifício, era particularmente complexa. Tratava-se, sem dúvida, de um caso inteiramente italiano, na medida em que só a Itália tem a singularidade de ver no seu território a sede do Papado. Por outro lado, a questão tinha uma indubitável relevância também internacional. Deve-se observar que, quando terminou o poder temporal, a Santa Sé, embora reclamasse a mais plena liberdade e a soberania que lhe compete na sua ordem, sempre rejeitou a possibilidade de uma solução da "Questão Romana" através de imposições vindas de fora, confiando nos sentimentos do povo italiano e no sentido de responsabilidade e de justiça do Estado italiano. A assinatura dos Pactos lateranenes, ocorrida no dia 11 de Fevereiro de 1929, marcou a solução definitiva deste problema. A propósito do fim dos Estados pontifícios, na recordação do beato Papa Pio IX e dos seus sucessores, volto a citar as palavras do cardeal Giovanni Battista Montini, proferidas no seu discurso no Capitólio, a 10 de Outubro de 1962: "O papado retomou com vigor inusitado as suas funções de mestre de vida e de testemunha do Evangelho, a ponto de se elevar a uma tal altura no governo espiritual da Igreja e na irradiação sobre o mundo, como nunca".
A contribuição fundamental oferecida pelos católicos italianos para a elaboração da Constituição republicana de 1947 é bem conhecida. Se o texto constitucional foi o fruto positivo de um encontro e de uma colaboração entre diferentes tradições de pensamento, não existe dúvida alguma de que só os constituintes católicos se apresentaram ao histórico encontro com um projecto específico sobre a lei fundamental do novo Estado italiano; um projecto amadurecido no interior da Acção Católica, de modo particular da Fuci e do Movimento dos Licenciados e da Universidade Católica do Sagrado Coração, e objecto de reflexão e de elaboração no Código de Camaldoli, de 1945, e na XIX Semana Social dos Católicos Italianos, desse mesmo ano, dedicada ao tema: "Constituição e Constituinte". Ali teve início um compromisso muito significativo da parte dos católicos italianos na política, na actividade sindical, nas instituições públicas, nas realidades económicas e nas expressões da sociedade civil, oferecendo deste modo uma contribuição bastante relevante para o crescimento do país, com uma demonstração de absoluta fidelidade ao Estado e de dedicação ao bem comum, e inserindo a Itália em projecção europeia. Além disso, durante os anos dolorosos e obscuros do terrorismo, os católicos deram o seu testemunho de sangue: como não recordar, entre as várias figuras, o Dep. Aldo Moro e o Prof. Vittorio Bachelet? A Igreja por sua vez, também graças à ampla liberdade que lhe tinha sido garantida pela Concordata lateranense de 1929, deu continuidade, mediante as suas próprias instituições e actividades, à oferta de uma contribuição efectiva para o bem comum, intervindo de maneira particular em benefício das pessoas mais marginalizadas e sofredoras, e principalmente continuando a alimentar o tecido social daqueles valores morais que são essenciais para a vida de uma sociedade democrática, justa e ordenada. O bem do país, entendido integralmente, foi sempre procurado e expresso de maneira particular nos momentos de elevado significado, como na "grande oração pela Itália", proclamada pelo Venerável João Paulo II no dia 10 de Janeiro de 1994. A conclusão do Acordo de revisão da Concordata lateranense, assinada a 18 de Fevereiro de 1984, assinalou a passagem para uma renovada fase das relações entre Igreja e Estado na Itália. Esta passagem foi claramente sentida pelo meu Predecessor que, no discurso pronunciado no dia 3 de Junho de 1985, no acto de intercâmbio dos instrumentos de ratificação do Acordo observava que, como "instrumento de concórdia e de colaboração, a Concordata se situa agora numa sociedade caracterizada pela livre competição das ideias e subdivisão pluralista dos diversos componentes sociais: ela pode e deve constituir um factor de promoção e crescimento, favorecendo a profunda unidade de ideais e de sentimentos, pela qual todos os italianos se sentem irmãos numa mesma Pátria". E acrescentava que no exercício da sua diaconia pelo homem, "a Igreja tenciona agir no pleno respeito da autonomia da ordem política e da soberania do Estado. De igual modo, ela está atenta à salvaguarda da liberdade de todos, condição indispensável para a construção de um mundo digno do homem, que unicamente na liberdade pode procurar de maneira integral a verdade e aderir-lhe sinceramente, encontrando nela motivo e inspiração para o compromisso solidário e unitários em prol do bem comum". O Acordo, que contribui amplamente para o delineamento daquela laicidade sadia que denota o Estado italiano e o seu ordenamento jurídico, evidenciou os dois princípios supremos que são chamados a presidir às relações entre Igreja e comunidade política: o da distinção de âmbitos e o da colaboração. Uma colaboração motivada pelo facto de que, como já ensinava o Concílio Vaticano II, ambas, ou seja a Igreja e a comunidade política, "embora a títulos diferentes, estão ao serviço da vocação pessoal e social dos mesmos homens" (Constituição Gaudium et spes, 76). A experiência amadurecida durante os anos em que vigoravam as novas disposições concordadas viu, mais uma vez, a Igreja e os católicos comprometidos de diversas maneiras a favor daquela "promoção do homem e do bem do país" que, no respeito pela independência e soberania recíprocas, constitui o princípio inspirador e orientador da Concordada em vigor (cf. art. 1). A Igreja está consciente não apenas da contribuição que ela oferece para a sociedade civil e o bem comum, mas também daquilo que recebe da sociedade civil, como afirma o Concílio Vaticano II: "Todos aqueles que... contribuem para o desenvolvimento da comunidade humana no plano familiar, cultural, económico, social e também político, tanto nacional como internacional... prestam uma ajuda não pequena, segundo a vontade de Deus, à comunidade eclesial, enquanto ela depende das realidades externas" (Constituição Gaudium et spes, 44).
Considerando o longo porvir da história, é necessário reconhecer que a nação italiana sempre sentiu o ónus mas, ao mesmo tempo, o privilégio singular que lhe é oferecido pela situação peculiar pela qual é na Itália, em Roma, a sede do Sucessor de Pedro e, portanto, o centro da catolicidade. E a comunidade nacional sempre respondeu a esta consciência, expressando proximidade afectiva, solidariedade e ajuda à Sé Apostólica, para a sua liberdade a fim de contribuir para a realização das condições favoráveis para o exercício do ministério espiritual no mundo por parte do Sucessor de Pedro, que é o Bispo de Roma e o Primaz da Itália. Tendo passado as turbulências causadas pela "Questão Romana" e tendo alcançado a desejada Conciliação, também o Estado italiano ofereceu e continua a oferecer uma colaboração preciosa, da qual a Santa Sé frui e pela qual está conscientemente agradecida.
Senhor Presidente, ao apresentar-lhe estas reflexões, invoco de coração sobre o povo italiano a abundância dos dons celestes, a fim de que seja sempre orientado pela luz da fé, nascente de esperança e de compromisso perseverante em prol da liberdade, da justiça e da paz.

Vaticano, 17 de Março de 2011.

 

 

Uma história pela unidade

 

GIOVANNI MARIA VIAN

A 17 de Março de 1861, há um século e meio, a proclamação da unidade italiana era um momento simbolicamente fundamental de uma história mais do que milenária num país ligado de modo deveras singular ao cristianismo. A tal ponto que a sua fisionomia e identidade - como mais em geral as do continente europeu - não seriam compreensíveis, a nível histórico e sob um ponto de vista espiritual, se não se tivessem em conta estas indubitáveis e profundas características que, com outras diversas, representam as suas raízes.
Em síntese, sem a tradição cristã, e em particular sem a tradição católica e sem o papado a Itália não seria aquilo que foi e aquilo que é hoje. Um país com um passado importante - sob muitos aspectos inigualável e exemplar, não obstante as sombras e as misérias, inevitáveis como em cada vicissitude humana - e que merece um futuro à altura dos momentos mais nobres da sua história. Reconhecido e apreciado nas suas características inconfundíveis, não obstante acontecimentos atormentados e dolorosos, no concerto internacional.
Hoje na Itália a unidade nacional é celebrada com sentimentos diversos: orgulho justificado, reticências infundadas, mas sobretudo preocupações urgentes devido a uma crise que tem muitos aspectos no país. Num cenário global marcado por acontecimentos arrasadores em diversas partes do mundo, do Japão ao Médio Oriente chegando aos países africanos. Nas celebrações, de uma unidade que se constituiu de facto contra o papado e o seu poder temporal, a Igreja católica participa hoje com uma adesão certamente não formal. Confirma isto a mensagem do Papa que o seu secretário de Estado, com um gesto sem precedentes, entregou ao Presidente italiano no Quirinal, a colina que olha para o Vaticano. É um gesto que expressa vontade de colaboração verdadeira ao serviço do bem de todos. Na linha ininterrupta de uma tradição espiritual e cultural única no mundo, transformando-se nos últimos séculos e nos últimos decénios numa história pela unidade real e profunda do país, uma unidade para a qual muitíssimos católicos - mulheres e homens muitas vezes exemplos vivos de santidade - contribuíram com uma presença múltipla e vivaz. Fundada na caridade radical de Cristo que veio para salvar todos os seres humanos e revelar-lhes o rosto de Deus.



(©L'Osservatore Romano - 19 de Março de 2011)

 

Apelo durante o Angelus

Tremendos acontecimentos


No final do Angelus de 13 de Março - que publicamos na página 3 - Bento XVI manifestou a sua "proximidade espiritual" às populações do Japão, atingidas pelo sismo e pelo tsunami. Estimados irmãos e irmãs

As imagens do trágico sismo e do consequente tsunami no Japão deixaram-nos todos fortemente impressionados. Desejo renovar a minha proximidade espiritual às queridas populações daquele país que, com dignidade e coragem, estão a enfrentar as consequências de tais calamidades. Rezo pelas vítimas e pelos seus familiares, assim como por quantos sofrem por causa destes tremendos acontecimentos. Encorajo aqueles que, com louvável prontidão, se comprometem na oferta de assistência. Permaneçamos unidos na oração. O Senhor está próximo de nós!


(©L'Osservatore Romano - 19 de Março de 2011)

 

A espiritualidade dos anjos e a associação Opus Sanctorum Angelorum

Aqueles que vêem a face do Pai


Com data de 2 de outubro de 2010, a Congregação para a Doutrina da Fé enviou aos presidentes das Conferências episcopais uma carta circular sobre a associação "Opus Angelorum", depois publicada na edição portuguesa de L'Osservatore Romano, no dia 13 de novembro de 2010, p. 16. Nesta carta, a Congregação informa, em particular, sobre a aprovação do "Estatuto do Opus Sanctorum Angelorum" por parte da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica e sobre a aprovação da "fórmula de uma consagração aos Santos Anjos para o Opus Angelorum" por parte da Congregação para a Doutrina da Fé. Parece, portanto, oportuno ilustrar brevemente a espiritualidade desta Obra dos Santos Anjos a qual, assim como se apresenta hoje, é "uma associação pública da Igreja em conformidade com a doutrina tradicional e as diretrizes da Suprema Autoridade; difunde entre os fiéis a devoção aos Santos Anjos, exorta à oração pelos sacerdotes, promove o amor a Jesus Cristo na Sua paixão e a união à mesma" (Carta da CDF).
Qual é, portanto, a espiritualidade desta associação? E qual tem sido o seu caminho até ao estado atual, ao qual se refere a carta da Congregação para a Doutrina da Fé? O Opus Sanctorum Angelorum nasceu em Innsbruck, Áustria, no ano de 1949. A Senhora Gabriele Bitterlich, esposa e mãe de três filhos, esteve na origem deste movimento. Desde 1949, desenvolveu-se nela uma consciência pessoal sempre mais clara de que o Senhor Jesus Cristo queria que os fiéis venerassem e invocassem mais os santos anjos e se abrissem à sua ajuda poderosa. Como autêntica cristã, porém, sempre professou a sua submissão em tudo à autoridade da Igreja. Naqueles anos, esta autoridade era o bispo de Innsbruck, Dom Paulus Rusch, com o qual sempre mantinha o contato. A partir de 1961, o Opus Angelorum estendeu-se a diversos países do mundo. Deste modo, a partir de 1977, foi a autoridade suprema da Igreja a examinar as doutrinas e práticas particulares do Opus Angelorum.
Com a aprovação do movimento, a Igreja reconheceu a validade fundamental da intuição fundadora da Senhora Bitterlich mas, por outro lado, também constatou, no considerável conjunto de seus escritos, diversas doutrinas e, em particular, "teorias... acerca do mundo dos anjos, dos seus nomes pessoais, dos seus grupos e funções", "estranhas à Sagrada Escritura e à Tradição", as quais "não podem servir como base para a espiritualidade e atividade de associações aprovadas pela Igreja" (cf. Decreto Litteris diei da Congregação para a Doutrina da Fé, de 6 de junho de 1992). Uma vez que o Opus Angelorum obedeceu à Igreja, abandonando aquelas doutrinas e suas consequências práticas, este se apresenta hoje com toda a razão como um movimento eclesial chamado a colaborar, mediante o próprio carisma, na missão evangelizadora e salvífica da Igreja. A base da sua espiritualidade é, portanto, a Palavra de Deus, a qual se encontra na S. Escritura e na Tradição viva da Igreja, que são autenticamente interpretadas pelo Magistério. Uma síntese da doutrina do Magistério a respeito do mundo angélico encontra-se no Catecismo da Igreja Católica (cf. CIC 328-336, 350-352).
Neste se lê, em primeiro lugar, que a "existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente anjos, é uma verdade de fé" (CIC 328). "Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. Porque contemplam "constantemente a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18, 10), são "poderosos executores de sua palavra, obedientes ao som de sua palavra" (Sl 103, 20)" (CIC 329); "são criaturas pessoais e imortais" (CIC 330).
Jesus Cristo não é só o centro dos homens, mas também dos anjos: "Cristo é o centro do mundo angélico. São seus os anjos... São seus porque foram criados por e para Ele... São seus, mais ainda, porque Ele os fez mensageiros de seu projeto de salvação" (CIC 331). "Eles aí estão, desde a criação e ao longo de toda a História da Salvação, anunciando de longe ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de sua realização" (CIC 332). Por isso, este serviço se refere ao próprio Verbo encarnado e ao Seu Corpo na terra, a Igreja. "Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é rodeada da adoração e do serviço dos anjos... Protegem a infância de Jesus, servem a Jesus no deserto, confortam-no na agonia, embora tivesse podido ser salvo por eles da mão dos inimigos, como outrora fora Israel. São ainda os anjos que "evangelizam", anunciando a Boa Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. Estarão presentes no retorno de Cristo, que eles anunciam, a serviço do juízo que o próprio Cristo pronunciará" (CIC 333).
"Do mesmo modo, a vida da Igreja se beneficia da ajuda misteriosa e poderosa dos anjos" (CIC 334). "Em sua Liturgia, a Igreja se associa aos anjos para adorar o Deus três vezes Santo; ela invoca a sua assistência... Além disso, festeja mais particularmente a memória de certos anjos (S. Miguel, S. Gabriel, S. Rafael, os anjos da guarda)" (CIC 335).
Deste modo, "desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão. "Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida". Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus" (CIC 336). Com razão, portanto, a "Igreja venera os anjos que a ajudam em sua peregrinação terrestre" (CIC 352). A particularidade da associação Opus Sanctorum Angelorum consiste no fato de que os seus membros levam a devoção aos santos anjos àquele desenvolvimento pleno que se manifesta e se torna concreto numa "consagração aos santos Anjos", à semelhança daquilo que se verificou na história da Igreja com relação à devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Coração imaculado de Nossa Senhora (consagração ao Coração de Jesus e de sua Mãe).
Através da consagração ao Anjo da Guarda entra-se na Obra dos Santos Anjos. A consagração aos santos Anjos é feita por aqueles membros que querem empenhar-se mais pelos fins espirituais do movimento. Esta consagração entende-se como uma aliança do fiel com os santos anjos, isto é, como um ato consciente e explícito de reconhecer e levar a sério a sua missão e posição na economia da salvação. Como muitas espiritualidades têm as suas expressões típicas, por exemplo, o "Totus tuus" de Papa João Paulo II, assim a espiritualidade da consagração aos santos Anjos no Opus Angelorum poder-se-ia caracterizar com as palavras "cum sanctis angelis", isto é, "com os santos anjos" ou "em comunhão com os santos anjos".
De fato, na fé e na caridade teologal é possível uma "convivência" dos fiéis com os santos anjos como verdadeiros amigos (cf. S. Tomás, Summa Theologiae II-II, q. 25, a. 10; q. 23, a. 1, ad 1.), e assim também uma íntima colaboração espiritual com eles em vista da finalidade do desígnio salvífico de Deus com relação a todas as criaturas (cf. Ef 1, 9-10; Cl 1, 15-20; Jo 12, 32; 17, 21-23; Ap 10, 7; 19, 6-9.), já que por parte deles está garantida a cooperação em todas as nossas boas obras (cf. CIC 350: "Ad omnia bona nostra cooperantur angeli - Os anjos cooperam para todos os nossos bens" (S. Tomás de Aquino, S. Th. I, 114, 3, ad 3).
Esta convivência e colaboração espiritual dos fiéis com os santos anjos, na qual consiste propriamente, segundo o Estatuto supramencionado, a "natureza" do Opus Angelorum, exige obviamente não só a fé e o amor aos santos anjos - em primeiro lugar ao próprio Anjo da Guarda - mas também a aplicação prudente dos critérios de "discernimento dos espíritos". Aqui vem a propósito a seguinte explicação que se encontra no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (p. 182: comentário a uma imagem de Jan Van Eyck): "Como na visão da escada de Jacó - "Por ela subiam e desciam os anjos do Senhor" (Gn 28, 12) - os anjos são dinâmicos e incansáveis mensageiros, que ligam o céu à terra. Entre Deus e a humanidade não existe silêncio e incomunicabilidade, mas diálogo contínuo, comunicação incessante. E os homens, destinatários dessa comunicação, devem afinar esse ouvido espiritual para ouvir e compreender essa língua angélica, que sugere palavras boas, sentimentos santos, ações misericordiosas, comportamentos caritativos, relações edificantes".
O Opus Angelorum fundamenta-se sobre a prontidão incondicional para servir Deus com a ajuda dos santos anjos e tem por finalidade a renovação da vida espiritual na Igreja com a ajuda deles, nas chamadas "direções (ou dimensões) fundamentais" de adoração, contemplação, expiação e missão (apostolado).
A ajuda dos santos anjos e a união dos homens com eles permitem a estes viver melhor a fé e também testemunhá-la com mais força e convicção. Os santos anjos, com efeito, contemplam continuamente a face de Deus (cf. Mt 18, 10) e vivem em constante adoração. De modo particularmente eficaz podem, por conseguinte, iluminar os fiéis que se abrem conscientemente à sua ação, sendo estes fiéis ajudados por eles a contemplar na fé os mistérios divinos: Deus mesmo e as suas obras (theologia e oikonomia) (cf. CIC 236), a crescer no conhecimento e no amor de Deus, a permanecer na Sua presença e a realizar uma adoração particularmente reverente e amorosa, dedicando-se à maior glorificação de Deus. A adoração, especialmente a adoração eucarística, ocupa, por isso, no Opus Angelorum o primeiro lugar.
Como o próprio Senhor Jesus Cristo foi fortalecido pelo Pai celeste através de um anjo para suportar a paixão redentora (cf. Lc 22, 43), assim os membros do Opus Angelorum confiam na ajuda dos santos anjos para seguir Cristo com caridade expiadora pela santificação e salvação das almas, e particularmente pelos sacerdotes. Por isso, existe no Opus Angelorum também o piedoso exercício da "Passio Domini", isto é, um tempo de oração semanal (quinta-feira à noite e sexta-feira à tarde), no qual os membros se unem espiritualmente ao Redentor no mistério da Sua paixão salvífica. Cristo crucificado e ressuscitado é, com efeito, o centro tanto dos homens como também dos santos anjos.
Com a aprovação do Opus Angelorum, a Igreja deu a bênção a um movimento que se caracteriza, sem dúvida, por uma devoção peculiar aos santos anjos, mas também e essencialmente - em conformidade com as propriedades características dos anjos - por uma orientação absoluta para Deus e seu serviço, para Cristo Redentor, a cruz, a Eucaristia, para a glória de Deus e pela santificação e salvação das almas. Em verdade, a consciência viva da presença e da ajuda misteriosa e poderosa dos santos anjos, servos e mensageiros de Deus, é capaz de levar os fiéis a se dedicarem confiadamente à primeira e substancial missão da Igreja: a salvação das almas para a glória de Deus.


(©L'Osservatore Romano - 19 de Março de 2011)

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